terça-feira, 6 de outubro de 2015

Pilares degradados

Matheus Viana



As recentes ordenações de líderes homossexuais em algumas igrejas ditas evangélicas nos EUA e o levante político em prol do alargamento do conceito de família no Brasil são alguns dos muitos indícios que demonstram que a humanidade está distante de Deus (Romanos 3:23, 8:19-21). A explícita degradação moral e social que presenciamos não é algo que ocorre apenas extra ecclesian (fora da Igreja), como o primeiro exemplo citado sugere, pelo fato de estar presente no âmago do coração humano (Jeremias 17:9, Evangelho segundo Marcos 7:20-23).

Assim como o mal não existe por si só, sendo assim a ausência do bem; a corrupção passa a existir – embora seja algo abstrato - a partir do momento em que o ser humano abandona o padrão de normalidade estabelecido por Deus à Sua vida, também chamado de mandato cultural. Logo, corrupção é o distanciamento da ética divina que precisa fundamentar a humana.

Já nascemos em pecado, afastados de Deus (Salmo 51:5). Ou seja, somos corruptos por natureza (Colossenses 3:5). Por isso, precisamos fundamentar a nossa maneira de pensar, sentir e agir na ética divina (Evangelho segundo Marcos 12:30, II Coríntios 10:5). Foi isto que Esdras demonstrou quando proclamou: “Guardo no meu coração as tuas palavras, para eu não pecar contra ti.” (Salmos 119:11).

A resposta para o mundo em conflito não é nenhum sistema político, econômico, social ou religioso, seja ele qual for. A Igreja de Jesus Cristo é (Evangelho segundo Mateus 16:18-19). Conforme preconiza o apóstolo Paulo, ela é “coluna e baluarte da verdade” (I Timóteo 3:16). Outra pergunta consistente, entretanto, surge neste quesito: como ser coluna e baluarte da verdade?

É importante salientarmos a advertência do apóstolo Paulo aos filipenses: “para que venham a tornar-se puros e irrepreensíveis, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração perversa e depravada, na qual vocês brilham como estrelas do universo”. (Filipenses 2:14). O primeiro passo é discernimos o nosso contexto. Francis Schaeffer declara em seu livro A morte da razão: “Para comunicar a fé cristã de modo eficiente, portanto, temos que conhecer e entender as formas de pensamento de nossa geração.”[1]. Pois o pensamento determina o comportamento.

A humanidade age aquém da ética divina porque sua forma de pensar, e consequentemente de sentir, foi deturpada (II Coríntios 11:3). A questão é tratar o problema na raiz. O agir correto demanda o pensar e o sentir corretos. Tal possibilidade, no entanto, demanda o ensino correto. Por isso, Lucas sintetizou o ministério de Jesus dizendo, no prólogo do livro de Atos: “... relatando as coisas que Jesus começou a fazer e ensinar.” (Atos 1:1, ênfase acrescentada). Jesus, por Sua vez, ao falar sobre o Espírito Santo, declarou: “Mas o Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, lhes ensinará todas as coisas...” (Evangelho segundo João 14:26, ênfase acrescentada).

Para que o Evangelho alcance o propósito que Deus deseja é preciso, nos termos paulinos, destruir: “... argumentos e toda pretensão que se levanta contra o conhecimento de Deus, levando cativo todo pensamento, para torná-lo obediente a Cristo.” (II Coríntios 10:5). Jesus veio para destruir todas as obras do maligno (I João 3:8). A nossa parte, como seguidores de Cristo, é observarmos a elucidação de Paulo aos coríntios. Pois este é um dos propósitos pela qual o Espírito Santo de Deus habita em nós.

Paulo escreve ao seu discípulo Timóteo: “De fato, todos os que desejam viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos. Contudo, os perversos e impostores irão de mal a pior, enganando e sendo enganados. Quanto a você, porém, permaneça nas coisas que aprendeu e das quais tem convicção, pois você sabe de quem o aprendeu. Porque desde criança você conhece as Sagradas Escrituras, que são capazes de torná-lo sábio para a salvação mediante a fé em Cristo Jesus.” (II Timóteo 3:12-15).

Palavras plenamente pertinentes a nós. A perseguição ao cristianismo, em seus diferentes níveis, é uma realidade. Não ouso falar sobre a perseguição física. Mas quero falar do ataque que os cristãos ocidentais têm sofrido há muito tempo.

Como professor para a faixa etária de 10 a 18 anos, tenho visto a degradação moral como resultado de uma abordagem intelectual anticristã. Nossos jovens são, a todo momento, bombardeados de conceitos e valores distorcidos e conflitantes com a ética cristã através de todo tipo de parafernália tecnológica. Diante disso, qual tem sido a nossa reação?

Ao nos depararmos com a advertência de Paulo a Timóteo, devemos questionar, em relação aos nossos filhos e alunos: “O que eles têm aprendido? Quais são suas convicções? De quem têm aprendido? O que conhecem e o que não conhecem? Tal conhecimento é capaz de torná-los sábios para a salvação?”. Não são questões retóricas, mas que anseiam pelas respostas corretas e efetivas (Romanos 8:19).

Quais devem ser suas convicções?

Fé é algo inerente do ser humano. Não existe humano que não a tenha. O psicólogo americano William James (1842-1910) a denomina como hipóteses funcionais[2], ou seja, algo em que o ser humano, necessariamente, deve acreditar para pautar sua vida. O ateísmo, por exemplo, é uma expressão de fé, assim como toda e qualquer adesão e devoção ideológica. Sendo assim, fé é um dos principais alicerces da conduta humana.

Qual é, portanto, a estrutura da fé? Fé demanda um objeto. Na medida em que o conhecemos, a fé se desenvolve em nós. Conforme diz o escritor da carta aos hebreus, fé é a certeza das coisas que se esperam e a convicção das coisas que não vemos (Hebreus 11:1). Não existe certeza sem fatos, nem convicção sem verdades.

Portanto, devemos analisar, em primeiro lugar, qual tem sido o objeto de fé de nossos filhos e alunos. Depois, quais são os fatos que fundamentam suas certezas. E, então, quais as verdades que fundamentam suas convicções.

Continua...


[1] SCHAEFFER, Francis. A morte da razão, tradução de João Bentes. 2 ed.  ABU Editora – São Paulo; Editora Ultimato – Viçosa, 2014. p. 12.
[2] MCGRATH, Alister. Surpreendido pelo sentido; ciência, fé e como conseguimos que as coisas façam sentido; tradução de Onofre Muniz. – São Paulo: Hagnos, 2015. p. 64.

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